Imunocastração de Suínos Machos
A produção de suínos machos exige a castração como prática de manejo obrigatória, já que compostos acumulados na carcaça dos animais inteiros (androsterona e escatol) prejudicam o sabor e odor da carne, inviabilizando seu consumo. À medida que os suínos machos atingem a maturidade sexual, a androsterona é sintetizada pelas células de Leydig nos testículos dos animais, e transportada pela corrente sanguínea para as glândulas salivares e para o tecido adiposo (Bonneau e Squires, 2000). Após ser liberada na saliva, a androsterona age como feromônio, estimulando as funções reprodutivas nas fêmeas. A secreção de androstenona e outros hormônios esteroides testiculares são regulados pelo sistema neuroendócrino, especificamente pelo hormônio luteinizante (LH), cuja secreção é controlada pelo hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) (Einarsson, 2006). Já o escatol é produzido a partir da degradação bacteriana do aminoácido triptofano no intestino dos animais, e seus níveis são mais elevados em machos inteiros pois os hormônios esteroides testiculares reduzem a degradação hepática deste composto (Furnous e Oliver, 1999).
A castração cirúrgica é uma prática ainda muito utilizada na suinocultura brasileira, sendo realizada nos primeiros dias de vida do animal. Porém, trata-se de um procedimento invasivo e estressante, que vai contra os fundamentos de bem-estar animal, ocasionando dores e lesões que podem prejudicar o desempenho dos leitões. Tendências internacionais têm pressionado melhorias em condições de manejo na suinocultura, e nesse sentido, a União Europeia proibiu em 2018 a castração cirúrgica sem analgesia (UE, 2018).
Em 2007 o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) autoriza a utilização de uma solução tecnológica e eficaz: a imunocastração, que de maneira geral utiliza o próprio sistema imune do animal para castrá-lo. A técnica consiste na aplicação de duas doses de uma vacina que contém GnRH modificado, que induz a produção de anticorpos contra o próprio GnRH endógeno, bloqueando a liberação de gonadotrofinas (LH e FSH) e consequentemente a produção e secreção dos hormônios esteroides testiculares (Zamaratskaia e Rasmussen, 2015). A primeira dose da vacina deve ser aplicada por volta de 8-9 semanas de vida dos suínos, e a segunda dose deve ser aplicada 4-5 semanas antes do abate – período suficiente para que a androsterona e escatol presentes nos tecidos sejam metabolizados e excretados. A primeira dose vacinal promove a sensibilização imunológica e a segunda dose permite a resposta imunológica que inibe as funções testiculares (Jaros et al., 2005).
Dessa forma, até a segunda dose os hormônios esteroides sexuais são produzidos, permitindo sua atuação e benefícios durante a fase de crescimento. Sabemos que o gênero do animal influencia diretamente a produção e qualidade da carne, uma vez que a capacidade de deposição de tecido muscular se dá na seguinte ordem crescente: macho castrado, fêmeas e por último machos inteiros. Sendo assim, os machos inteiros depositam tecido adiposo mais tardiamente que as fêmeas e machos castrados (Poklukar et al., 2020).
Segundo meta-análise realizada por Demori et. al (2015), suínos machos imunocastrados, em comparação com machos castrados cirurgicamente, possuem maior ganho de peso (em média 12%) e melhor conversão alimentar, inclusive em condições de restrição alimentar, além de produzirem carcaças com maior quantidade de carne magra. Machos imunocastrados consomem menos ração, já que a testosterona atua negativamente no consumo de alimento, e ainda, por depositarem menor quantidade de tecido adiposo, demandam menor consumo energético. A maior deposição de carne magra em machos imunocastrados, comparados a machos castrados cirurgicamente, pode ser explicada pela atuação de hormônios esteroides sexuais que promovem maior retenção de nitrogênio, propiciando maior desenvolvimento muscular (Claus e Weiler, 1994).
Tendo em vista a pressão de consumidores e mercados pela produção animal respeitando os princípios de bem-estar, a imunocastração é uma técnica que além de respeitar estes princípios, permite a ação anabólica dos esteroides sexuais durante o período de crescimento, melhorando o desempenho e a qualidade da carcaça dos animais, podendo levar à maior lucratividade na produção de suínos.
Para mais informações a Núttria está à disposição, entre em contato pelo e-mail: tecnico@nuttria.com.
Patrícia Versuti A. Alvarenga - Nutricionista de Suínos - Núttria
Referências Bibliográficas
BATOREK, N. et al. Meta-analysis of the effect of immunocastration on production performance, reproductive organs and boar taint compounds in pigs. Animal, v.6, p.1330-1338, 2012.
BONNEAU, M.; SQUIRES, E. J. O uso de machos inteiros na produção de suínos. In: 1ª Conferência Internacional Virtual de Carne Suína. Concórdia. 2000. p. 173-198.
CLAUS, R.; WEILER, U. Endocrine regulation of growth and metabolism in the pig: A review. Livestock Production Science, v.37, p.245–260, 1994.
DEMORI, A. B. et al. Produção de suínos machos em crescimento: uma meta-análise. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, Salvador, v. 16, 2015.
EINARSSON, S. Vaccination against GnRH: pros and cons. Acta Veterinaria Scandinavica, v.8, p.1-4, 2006.
FURNOLS, M. F.; OLIVER, M. A. Review: Production and consumption of pork meat with different levels of boar taint. Food Science and Technology International, v.5, p. 367–375, 1999.
JAROS, P. et al. Effect of active immunization against GnRH on androstenone concentration, growth performance and carcass quality in intact male pigs. Livestock Production Science, v. 92, p.31-38, 2005.
JORNAL OFICIAL DA UNIÃO EUROPÉIA. Regulamento de Execução (UE) 2018/700 da comissão 08/05/2018.
POKLUKAR, K. et al. The effect of immunocastration on adipose tissue deposition and composition in pigs. Animal, 2020, Doi: https://doi.org/10.1016/j.animal.2020.100118.
ZAMARATSKAIA, G., RASMUSSEN, M. K. Immunocastration of Male Pigs – Situation Today. Procedia Food Science, v.5, p.324–327, 2015.
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