Mercado aquecido e custo estável animam o setor
As cotações do suíno vivo vinham relativamente estáveis no Brasil até maio (gráfico1), com pequenas oscilações de uma semana para outra. A partir de junho os preços pagos aos produtores mudaram de patamar, mostrando que o cenário anterior de oferta e demanda ajustada, agora mostra tendência de escassez de suínos para atender a forte procura.
O comportamento da bolsa de suínos de Belo Horizonte (BSEMG), uma das referências para definição de preços no Brasil, pode ser usado como parâmetro para comprovar esta mudança no mercado iniciada em junho e que se mantém no mês de julho, conforme a tabela 1, a seguir.
No acumulado do ano as exportações continuam superando os volumes do ano passado, apesar da redução significativa dos embarques para a China (tabela 2).
Comparando as destinações deste ano em relação ao mesmo período de 2023 (tabela 3), observa-se uma redução significativa do preço médio em dólar (-9,2%). Por outro lado, a redução dos embarques para a China e Hong Kong, foi mais que compensada pelo aumento das compras por parte das Filipinas, Chile, Japão, Coreia do Sul, Singapura e até mesmo o México.
Quando se analisa o último mês fechado (junho/24), observa-se que as Filipinas se aproximam cada vez mais de assumir a liderança nas importações da carne suína brasileira, inclusive com preços melhores do que a China (tabela 4); o Japão aparece como terceiro e o México já ocupa a sétima colocação. Esta maior pulverização dos destinos determina maior segurança no escoamento de nossa carne pelos canais de exportação, além de permitir buscar melhores preços no mercado internacional, visto que a China reduziu também o valor pago por tonelada.
Dados preliminares da Secex indicam que o mês de julho/24 deve fechar com mais de 100 mil toneladas de carne in natura embarcada, superando as 94 mil toneladas de julho de 2023, confirmando que, apesar da menor demanda chinesa, devemos terminar o ano com novo recorde de exportações.
A pergunta que muitas vezes se apresenta é: “qual o limite para a alta das cotações do suíno?”
A resposta envolve vários fatores, como renda da população, oferta x demanda da carne suína, dentre outros, sendo que a concorrência com outras carnes, em especial a bovina, é também um fator bastante relevante. É fato que, depois de uma sequência de queda nas cotações, o preço do boi gordo começou a reagir em julho, conforme demostra o gráfico 2, a seguir.
Esta alta recente de preço da carcaça bovina coincide com a desaceleração do abate nos últimos meses. Segundo o MBagro, dados preliminares dos abates nacionais de bovinos no SIF indicam uma desaceleração nos abates em maio (+7,3%) e junho (+6,9%) em relação ao mesmo período do ano passado (gráfico 3), sugerindo que a virada no ciclo pecuário está cada vez mais próxima.
Caso a redução do abate de bovinos continue, com reação das cotações desta proteína, este fator pode dar mais espaço para altas da carne suína, principalmente a medida que nos aproximamos do último trimestre do ano.
Com muita área de segunda safra a ser colhida, cotações do milho se mantém em queda
Segundo o MBagro a colheita do milho safrinha no Brasil, na primeira semana de julho, chegou a 42% das áreas no Centro-Sul, bem acima da média de 5 anos de 17%, sendo puxada pelo estado do Mato Grosso que já colheu metade de suas áreas. Minas Gerias é o estado mais atrasado na colheita, com 10%, mas acima de sua média de 4,5% para o período. No MATOPIBA a colheita também está avançada, com quase 31% já colhido até o dia 5 de julho, contra 17% na média histórica da região.
A CONAB em seu nono levantamento da safra 2023/24, publicado em 11 de julho, trouxe mais um aumento nas expectativas de colheita da segunda safra, com um incremento de quase 2 milhões de toneladas de milho a serem colhidos, totalizando 90 milhões. Já é o terceiro levantamento que traz aumento em relação ao anterior. Alguns analistas privados estimam que o volume colhido será ainda maior que o estimado pela CONAB. É o caso do Rally das safras que publicou há duas semanas uma estimativa de mais de 100 milhões de toneladas de milho para esta segunda safra.
Com a safra estadunidense em excelentes condições de cultivo, aliado a grandes volumes a serem colhidos no Brasil, o preço do milho se mantém com viés de baixa (gráfico 4).
Segundo o MBagro esta tendência de queda de preços no milho pode ser interrompida pela forte demanda para produção de etanol e do setor de carnes, associada à possível manutenção de um câmbio mais desvalorizado, trazendo pressão de preços nos meses vindouros. À medida que o ano avança os produtores vão acumulando resultados financeiros positivos em todas as regiões pesquisadas, conforme a tabela 5, a seguir.
Considerações finais
O presidente da ABCS, Marcelo Lopes, explica que o balanço do primeiro semestre, com pequenas oscilações nos custos e preço de venda reagindo nos últimos meses, se apresenta como um período de rara estabilidade financeira do setor, que ainda contabiliza dívidas da crise passada, mas que enxerga um horizonte de curto e médio prazo bastante favorável. “Numa atividade marcada pela grande oscilação de margens, é preciso que o produtor destine parte dos lucros para investir na modernização de sua granja, buscando a sustentabilidade em sintonia com as novas exigências do mercado. Melhorar antes de crescer deve ser o foco quando o mercado está favorável”, conclui.
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