A vez da suinocultura de precisão
Ainda que desafiador, o ano de 2020 foi de crescimento para a suinocultura. Conforme projeção do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em novembro, as exportações de carne suína devem fechar o ano com um crescimento de cerca de 49%, impulsionadas principalmente pelos embarques para a China. Em contrapartida, o custo dos insumos também sofreu acréscimos, subindo em média 14,98% em outubro e cerca de 40,69% no acumulado do ano, conforme dados da central de Inteligência de Aves e Suínos da Embrapa (CIAS). Panorama que coloca produtores e integradores frente a um desafio: como aproveitar a crescente demanda e se manter competitivo, mesmo com a inflação dos insumos?
A resposta não é simples, mas um caminho promissor e que já vem dando ótimos resultados é a robotização dos tratos e processos relacionados a suinocultura 4.0, acelerando a modernização de granjas e integradoras. Com as novas tecnologias de robotização, gestão e inteligência artificial, aliadas a coleta de informações precisas e em tempo real de cada granja, baia e trato, o suinocultor tem o controle rigoroso de todo o processo, principalmente do consumo de ração. Um ponto crucial, já que cerca de 70% do custo de produção da carne suína está diretamente ligado a alimentação, que por se tratar de uma commodity, está vulnerável as oscilações do mercado impactando significativamente os resultados.
A robotização dos tratos, aliada a tecnologias de enriquecimento sensorial nas granjas, traz a possibilidade do criador ou da integradora ajustar a sua produção conforme as variações do mercado e dos custos dos insumos, melhorando significativamente a conversão animal e, por consequência, os resultados financeiros. O que deixa a proteína produzida no país mais competitiva frente a outros mercados, mesmo com o aumento constante no valor da ração animal.
Movimento que já começa a tomar forma na região sul, responsável por 66% da produção nacional. Somente a ROBOAGRO, empresa de Caxias do Sul-RS especializada na robotização de tratos de suínos, já conta com cerca de 500 unidades em operação na região e viu o número de pedidos dobrar em 2020. Exemplo esse, que evidencia o caminho para o qual o mercado vai se voltar nos próximos anos, com cada vez mais tecnologia inserida nas granjas (sensoriamento de consumo de água, temperatura, ventilação, sanidade, entre outros) e um controle rigoroso do arraçoamento, principal gargalo enfrentado pelos suinocultores locais. A suinocultura de precisão já é uma realidade, uma nova forma de pensar o setor e mudar o panorama da proteína produzida no Brasil, posicionando o mercado local para uma retomada com maior qualidade e competitividade no mercado internacional.
Autoria: Giovani Molin - Diretor Roboagro - MBA em Gestão Empresarial pela FGV